Grande manifestação nacional<br> por emprego e direitos<br>para os jovens
JUVENTUDE Na manifestação da Interjovem/CGTP-IN, anteontem em Lisboa, foram exigidas medidas concretas e urgentes do Governo para que postos de trabalho permanentes sejam ocupados por trabalhadores com vínculos efectivos. Por este objectivo, foi reafirmada a determinação de intensificar a luta.
A falta de respostas leva à acentuação da luta dos trabalhadores
O alerta ao Governo e o apelo aos milhares de jovens e outros trabalhadores que participaram nesta jornada ficou expresso no final da intervenção de Arménio Carlos, frente à Assembleia da República.
O Secretário-geral da CGTP-IN recordou que «estivemos aqui, no dia 10 de Novembro de 2015, para culminar uma luta de mais de quatro anos, que foi determinante para esvaziar a base social e política de apoio ao governo do PSD e do CDS» e nesse dia «saudámos aqui o seu afastamento do poder». «Hoje dizemos aqui ao Governo que é o momento de responder às propostas e reivindicações da CGTP-IN e não se deixar acomodar pelo poder», porque «o Governo está a facilitar cada vez mais a vida daqueles que tiveram privilégios e que não querem perdê-los: o grande patronato, os interesses económicos e financeiros».
Arménio Carlos frisou que «o Governo deve ouvir com atenção o que estamos aqui a dizer hoje, sob pena de amanhã ser o responsável pela acentuação da luta, não porque nós queiramos, mas porque a isso nos obrigam, em resultado da ausência de resposta às nossas reivindicações». Destacando como próximo marco nesta «luta de todos» a celebração do 1.º de Maio, apelou a que os manifestantes levem a mensagem a quem ali não pôde estar: «Que ninguém fique em casa, que ninguém fique à espera que outros venham resolver os nossos problemas, que sejam os trabalhadores mais uma vez os protagonistas».
Eliminar a precariedade
O combate à precariedade de emprego, que atinge mais de um milhão de trabalhadores que são, na grande maioria, jovens, foi o principal objectivo desta manifestação nacional, a culminar o «roteiro», que decorreu neste trimestre, com acções nos vários distritos na semana de 13 a 17 de Março.
Promovendo esta jornada no Dia Nacional da Juventude, a CGTP-IN e a sua Interjovem colocaram em evidência a actualidade dos objectivos comuns à luta dos jovens e a confiança na possibilidade de vencer obstáculos, inimigos e adversários, com união, organização e luta. Isso mesmo salientaria o coordenador da Interjovem, João Barreiros, que frente ao Parlamento começou por apontar a manifestação deste 28 de Março como a demonstração de que os jovens trabalhadores não se conformam com a precariedade e a exploração, não se resignam a receber o salário mínimo ou pouco mais que isso.
Da Praça da Figueira, onde se reuniram desde antes das 15 horas, jovens de vários sectores e regiões marcharam, com faixas, bandeiras e cartazes, gritando palavras de ordem e soprando apitos estridentes, rumo à Rua do Carmo, Chiado e Praça Luís de Camões, para descerem a Calçada do Combro, numa tarde de sol que dava mais brilho à alegria com que muitos assim exigiram solução para problemas graves.
Destacaram-se grupos identificados com o trabalho em call centers, que nesse dia fizeram greve e, antes de integrarem esta manifestação, já tinham protestado frente à MEO (PT), no Areeiro, e à Randstad, na Avenida da República.
No palco frente à AR, Arménio Carlos saudou a presença de muitos destes trabalhadores que são a voz de grandes empresas, nos call centers da EDP, da PT, da NOS, da Vodafone, da Fidelidade, mas são todos os dias explorados por estas multinacionais e pelas empresas de trabalho temporário. Para a CGTP-IN, estes trabalhadores devem estar nos quadros das empresas que hoje estão no papel de «utilizadoras».
O Secretário-geral da Intersindical lembrou que, com a acção dos sindicatos e a luta dos trabalhadores, houve milhares de casos de passagem de vínculos precários a efectivos. Realçou que esta tem de ser também uma luta das famílias e da sociedade, porque há ainda centenas de milhares de trabalhadores, e em especial jovens trabalhadores, que continuam sem conhecer outro contrato que não seja de vínculo precário, vivendo em permanente instabilidade e angústia.
A CGTP-IN, garantiu o Secretário-geral, não vai desistir de exigir que a cada posto de trabalho permanente corresponda um trabalhador ou uma trabalhadora com vínculo efectivo. «Além de antecâmara do desemprego, a precariedade é simultaneamente um instrumento para reduzir direitos, baixar salários e, em muitos casos, procuram usá-la para substituir a contratação colectiva», pelo que «é preciso que todos estejam unidos nesta luta, que vamos continuar e intensificar».
Tem de dar respostas!
Arménio Carlos, antecipando a apresentação do «Livro Verde» pelo Governo, adiantou que, em mais de 500 páginas, faz um balanço das «políticas que nos últimos anos foram impostas a Portugal e, particularmente, aos trabalhadores». O seu conteúdo «vem confirmar o que a CGTP-IN tem dito sobre as alterações à legislação laboral: nenhuma delas visou acrescentar ou manter direitos dos trabalhadores, foram todas no sentido de facilitar despedimentos, reduzir indemnizações, desregular horários de trabalho, acentuar a precariedade, reduzir os rendimentos dos trabalhadores».
Nele se reconhece o problema da pobreza laboral que atinge trabalhadores no activo, desempregados e jovens com vínculos precários.
No entanto, «mais do que apresentar uma caracterização do que se passou nos últimos tempos, o Governo tem de dar respostas e, neste caso concreto, ir ao encontro das propostas e reivindicações da CGTP-IN». E concretizou: «Acabe-se com a precariedade na Administração Pública, mas também no sector privado. É preciso distribuir a riqueza de outra forma, há que melhorar os salários. É preciso estender a contratação colectiva enquanto instrumento de progresso. E é preciso acabar de vez com este modelo de baixos salários e trabalho precário.»
Há 70 anos
A CGTP-IN evocou o dia 28 de Março de 1947, quando centenas de jovens que participavam num acampamento organizado pelo Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, em Bela Mandil, no Algarve, foram reprimidos pela PIDE, como já tinha acontecido noutras vezes e a outros antifascistas.
«Foi a luta destes jovens e do povo do nosso País que levou, após anos de resistência, à Revolução de Abril e às conquistas que ela nos trouxe», e a data passou a ser comemorada para manter presente que a juventude luta, mesmo nas piores condições de repressão, por uma vida melhor.
PCP com confiança
Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, sublinhou aos jornalistas que esta manifestação, para além do significado que comporta pelos seus objectivos, derrota totalmente a ideia de que a juventude está indiferente à vida política e social. Os jovens trabalhadores «vieram aqui transportar os seus problemas, particularmente a chaga da precariedade, que os atinge brutalmente, e evidenciaram uma grande combatividade», o que dá confiança quanto ao seu envolvimento nos próximos combates e nas lutas para conseguirem «direitos, tantas vezes maltratados e espezinhados, em centenas de empresas».
Da delegação do PCP, que saudou os manifestantes no final da Calçada do Combro, fizeram parte também Paulo Raimundo (membro da Secretariado do Comité Central do PCP), João Frazão (membro da Comissão Política do Comité Central do PCP) e Rita Rato (deputada à Assembleia da República).